A ciência por trás do por que fazemos o que fazemos
Por algum instante você já se questionou por que alguns de nós nunca conseguem cumprir aquela promessa de iniciar uma rotina de atividades físicas, enquanto outros cumprem um ritual quase que religioso de se exercitar praticamente todos os dias às 06:00h da manhã, ou no final da noite após um dia exaustivo de reuniões e compromissos de trabalho?
Por que alguns de nós não conseguimos resistir a um doce de sobremesa, ou ao cheiro de um hambúrguer e batatas fritas ao passar próximo da praça de alimentação de um shopping, enquanto outros conseguem passar ilesos por esse mar de tentações e escolher opções mais saudáveis?
Você já se perguntou por que faz o que faz, ou por que toma as decisões que toma em boa parte do tempo? Em 2006 um estudo da Duke University concluiu que mais de 40% ou seja, quase metade das ações que efetuamos todo santo dia não são na verdade decisões conscientes e sim hábitos.
Acredita-se que nossos hábitos fazem parte do processo de evolução do nosso cérebro, que se desenvolveu para ser a mais perfeita máquina de processamentos de dados e economia de energia de que já se ouviu falar. Em sua definição técnica, um hábito é uma escolha deliberada que todos nós fazemos em determinado momento, mas que após um tempo de repetição torna-se um comportamento automático. Imagine por exemplo a tarefa de fazer uma baliza ou tirar o carro de uma vaga apertada quando você estava aprendendo a dirigir, consegue se lembrar da quantidade de tempo e energia que o seu cérebro gastava para processar informações e tomar decisões para que você conseguisse efetuar essa tarefa? Se você já está dirigindo a algum tempo, provavelmente hoje faça isso sem ter que pensar muito no que está fazendo, não é verdade? Isso porque após repetir a mesma tarefa por algumas vezes o seu cérebro reuniu informações suficientes para te possibilitar tirar o seu carro da garagem sem ter que calcular milimetricamente a pressão que imprime nos pedais enquanto gira o volante e olha pelo retrovisor manobrando de ré…
Em algum momento de nossas vidas todos nós tomamos a decisão conscientes do que e qual quantidade iríamos comer, quando iríamos sair para nos exercitar ou ficar jogados no sofá, porém após um certo tempo repetindo os mesmos padrões o cérebro simplesmente para de gastar tempo e energia processando essas escolhas e as transformam nos padrões automáticos que conhecemos como hábitos e uma vez que um novo hábito é gerado, ele passa a operar de forma semelhante a um sofisticado programa de computador que não só segue executando a sua programação de forma automática, como também é capaz de se auto aperfeiçoar à medida em que opera, isso ocorrerá até que seja deletado ou reprogramado para operar de forma diferente.
Mas se um hábito pode ser mudado, reprogramado, ou deletado, como exatamente podemos fazer isso?
De acordo com Charles Duhigg, autor do Best Seller: O PODER DO HÁBITO, todo hábito possui um loop de três etapas:
- Uma deixa ou gatilho, que é o estímulo ou botão de play para que o seu cérebro entre em modo automático e qual hábito ele deve utilizar.
- Uma vez que o play é acionado, vem a parte da rotina ou tarefa que é a ação física, mental ou emocional. E finalmente temos a parte
- Que é a recompensa pela ação executada.
À medida que esse padrão (deixa, rotina e recompensa) é reforçado através da repetição o seu cérebro aprende um caminho rápido e eficaz para resolver um problema ou executar uma tarefa que antes demandava tempo e esforço para executar o que parece ser ótimo e realmente é, porém alguns hábitos podem trazer resultados catastróficos para a sua saúde física, emocional e financeira. O que os neurocientistas descobriram é que, como todo hábito resulta em uma recompensa, com o tempo o nosso cérebro passa a ansiar por essa recompensa desencadeando impulsos que levam pessoas a comportamentos compulsivos. Observe por exemplo o caso de pessoas que são viciadas em jogos, comidas, bebidas, cigarros e outras drogas. Embora a definição técnica do que seria um vício possa ser complexa e estar atribuída a diversos fatores, inclusive genéticos, em grande parte dos casos pode se observar exatamente os mesmo mecanismos encontrados no loop do hábito e o que se vê na prática é que os seus cérebros se tornam tão ansiosos pela recompensa que desenvolvem comportamentos compulsivos para se chegar a ela, podendo em alguns casos inclusive haver as famosas crises de abstinência. Olhando por esse ponto de vista, um vício pode ser visto como um hábito cujo anseio por recompensa fugiu do controle.
Embora também possa haver divergência quanto a forma de se mudar um hábito, a regra mais aceita é que, os hábitos podem ser mudados mais facilmente quando o seu loop (deixa, rotina e recompensa) é identificado e então muda-se a rotina mantendo as velhas deixas e recompensas. Uma forma de exemplificar isso seria tomando como base o exemplo de uma pessoa que desenvolve o hábito de comer doces como sobremesa após o almoço, então entra em sena o seguinte loop: 1) Deixa: Acabei de almoçar, preciso mudar o sabor da boca. 2) Rotina: Comer um doce. 3) Recompensa: sensação de prazer proporcionada pelo açúcar, sabor mais agradável ou poderia ser simplesmente a sociabilização que esse momento poderia proporcionar. Nesse caso se o que deflagra o hábito for o anseio por mudar o sabor que o alimento deixa na boca a pessoa pode mudar a rotina de comer a sobremesa por uma outra como escovar os dentes, mascar um chiclete ou comer uma fruta de sabor agradável e mesmo assim obterá a mesma recompensa, mesmo tendo alterado a rotina de comer o doce.
Pode até parecer confuso a princípio e você pode estar pensando: Mas se uma pessoa tem o hábito de beber por exemplo, a sua recompensa é ficar bêbada? Ao mapear comportamento de pessoas que tinham o hábito de beber, pesquisadores descobriram que a embriaguez estava longe de ser a recompensa pela qual o cérebro de viciados em álcool ansiava, na verdade em sua grande maioria os entrevistados relatavam anseios por recompensas como: uma fuga de alguma situação estressante, relaxamento, alívio de ansiedades, uma oportunidade de libertação emocional, é como se de alguma forma o álcool os proporcionasse isso, mesmo que de forma temporária ou ilusória os seus cérebros incorporaram essa rotina no loop dos seus hábitos. E uma vez que o seu cérebro aprende um caminho para efetuar uma determinada tarefa, seja ela eliminar uma dor ou obter alguma forma de prazer, ele vai lançar mão desse artifício que com o tempo será transformado facilmente em um padrão de comportamento automático.
E se a essa altura você já está considerando mudar alguns velhos hábitos ou adquirir outros novos e mais fortalecedores, fica aqui a nossa dica de ouro. Invista na aquisição de hábitos angulares. Não existe uma definição clara do que seria um hábito angular, porém o que se sabe é que alguns hábitos possuem o poder de produzir uma verdadeira reação em cadeia ajudando indivíduos, sociedades e até grandes corporações a desenvolverem uma série de outros hábitos que juntos produzem grandes impactos.
De acordo com especialistas a grande sacada dos hábitos angulares está no fato desses fornecerem pequenas vitórias, o que acaba impactando outras áreas influenciando-as de forma positiva, estudos que analisaram o impacto dos exercícios nas rotinas diárias de indivíduos identificaram que quando as pessoas passavam a se exercitar de forma habitual, mesmo que apenas uma vez por semana começavam a mudar outros padrões mesmo sem possuir consciência disso. De acordo com pesquisadores, pessoas que praticam atividades físicas começam a se alimentar melhor, se tornam mais produtivas no trabalho, afirmam sentir menos estresse, fumam menos cigarros e até usam os seus cartões de créditos com menos frequência. Apesar dos motivos não serem totalmente claros para muitos especialistas o exercício é um dos mais poderosos hábitos angulares devido a sua capacidade de transbordar para outras áreas facilitando a aquisição de outros excelentes hábitos.
E se você pudesse mudar um hábito hoje, qual hábito você mudaria?
E quais hábitos você desejaria incorporar na sua vida?
Conta para nós aqui nos comentários.
Prof. Robson Silva
CREF. 112904-G/SP